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Writrouble - parte dois.





Ele desceu da cama após confirmar que a mulher estava dormindo. Ela ficava linda com sua camisa grudada em seu corpo, tinha que admitir. Olhou-se no espelho do banheiro e suspirou sentindo o peso em suas costas. Ele sempre se arrependia depois. Ela não merece isso, mas já não havia mais volta.
Ela estava grávida.

A manhã chegou silenciosa, como um vento frio. Havia uma tempestade de neve lá fora, e mamãe estava preocupada com seus planos para a ceia de natal. O resto da família chegou bem cedo: duas tias, seus maridos e filhos. Admito que os adorava, eu era mimado por elas.
Logo que acordei confesso que fiquei um tanto decepcionado por me lembrar da noite anterior. Não confunda, eu não me arrependo, mas eu sei que (S-N) sim. A decepção passou logo, não era como se eu esperasse acordar com ela me olhando, sorrindo e dizendo que me amava. Mas esperava que, no mínimo, ela falasse comigo.
Encontrei-a perto das oito da manhã, estava no celeiro. Eu devia matá-la por estar alimentando meus cavalos com coisas que certamente não eram rações, mas ela parecia um pouco relaxada fazendo aquilo, enquanto conversava com o Thor, cavalo que ela montou no dia anterior.
Certamente não era um dia muito feliz para ela. Era véspera de natal e ela estava longe de tudo o que conhecia e amava. Robin me disse que encontrou-a chorando na cozinha durante a madrugada. Senti-me culpado, mas nada podia fazer.
Durante o almoço, ela ficou em silêncio. Respondia uma ou duas perguntas que lhe eram feitas. No começo, algumas tias acharam que eu finalmente tinha encontrado uma namorada e a questionaram sobre o nosso relacionamento. Enquanto ela tentava vergonhosamente dizer que não tínhamos nada, eu apenas ria.
Passamos a tarde toda decorando a casa para a ceia. Ela estava e cima de uma cadeira, sozinha na sala, enquanto tentava colocar a estrela no topo da árvore de natal. Sorri de lado, e me aproximei.
- Deixa eu te ajudar.
Falei, pegando-a pelos tornozelos antes mesmo que pudesse me responder com qualquer coisa que me afastaria. Surpresa, ela riu alto, procurando uma forma de se equilibrar no meu colo. Sorri tentando passar algum tipo de confiança para ela.
- Pode me soltar agora. – Ela disse quando colocou a estrela em seu devido lugar. Eu queria ter dito alguma coisa, mas eu imediatamente travei ao vê-la com o rosto inchado. 
Ficamos em silêncio –e afastados- por um tempo enquanto eu tentava entender o porquê de toda aquela decoração. Senti que por vezes ela me encarava, claramente desconfortável com o nosso silêncio.
- Como você está? – Perguntei.
A resposta demorou, e quando chegou, veio como um sussurro.
- Bem e você?
Confirmei com o rosto enquanto ouvia minha mãe gritar com Matthew, meu primo arteiro de cinco anos.
- Não dá pra falar isso de todo mundo. – Indicando os dois com a cabeça. Ela apenas sorriu.
Pouco depois desisti de ter qualquer conversa com ela e segui para cozinha tentando comer qualquer doce que estavam preparando.

Terminei de fechar os botões da minha camisa quando ouvi a porta do meu quarto ser aberta. Minha mãe me encarava com um sorriso no rosto. Olhei-a pelo reflexo do espelho. Ela se aproximou me ajudando com as mangas da camisa.
- A ceia está pronta, querido.
- Já estou indo.
- Não quero que se atrase.
- Mãe... – Olhei-a sugestivamente.

Ela me deixou sozinho e pouco depois eu sai do quarto, percebendo a porta do quarto de (S-N) entreaberta. Olhei para dentro encontrando-a com um moletom, na frente do seu notebook. Seus olhos estavam inchados e a maquiagem borrada. Suspirei sentindo um aperto no coração. 
Olhei ao redor vendo que o andar de cima estava vazio, e entrei no quarto em silêncio, considerando se estava fazendo a coisa certa. Me aproximei devagar, me sentando ao seu lado. Ela me olhou com aquela cara de criança chorona, e de certa forma eu me senti aliviado por saber que ela não me expulsaria.
Fiquei impressionado com o seu estado. Estaria mentindo se dissesse que ela estava bonita. Mordi meu lábio tentando compreender o que estava acontecendo e de onde veio tanta dor. Decidi que esperaria quando ela quisesse me contar. Coloquei uma mecha teimosa do seu cabelo, que insistia em cair nos seus olhos, atrás da orelha. Aproveitando-me pra acariciar um pouco o seu rosto com o polegar. Ela me encarava com aqueles olhos brilhantes e dolorosos. Passei meu dedo pelo seu queixo, sorrindo com a marquinha que ela tinha ali.
Olhei para a penteadeira procurando algo que me ajudasse a limpar aquela maquiagem preta que escorria por toda a sua bochecha. Encontrei um lenço umedecido e não hesitei em limpar suas lágrimas, primeiro com os meus dedos, porque honestamente, acredito que não há nada como um toque para demonstrar a alguém que você está ali. Depois peguei o lenço, passando por cima da maquiagem com delicadeza, como se ela pudesse se desfazer a qualquer momento. Seus olhos agora continham um misto de dor e curiosidade. Era como cuidar de uma criança.
Quando finalmente consegui tirar os resíduos de maquiagem, eu suspirei aliviado. Olhei de volta para o móvel lotado de maquiagens, somente para encara-la de volta depois.
- Eu nunca maquiei alguém antes. Mas se você quiser eu posso... – E pela primeira vez, coube um sorriso em seu rosto em meio a tantas lágrimas. – A ceia está pronta, e nós queremos muito você com a gente.
- Eu posso me virar com isso. – Sua voz saiu baixíssima, e eu duvido que se não estivesse tão perto dela, teria entendido. – Obrigada, Harry.
- Você quer que eu te espere? – Perguntei, e ela negou com o rosto.
Desci com as mãos nos bolsos da minha calça social, sentindo o aquecedor da casa fazer um bom trabalho. Leona me avistou e me puxou para um canto com Gemma, para que pudéssemos beber.
Pouco depois, já na minha terceira ou quarta taça de vinho, vi (S-N) adentrando a sala de jantar, tímida. Usando um vestido rodado, com mangas até os cotovelos, azul marinho com um cinto vermelho e uma meia calça escura. Ela estava linda, apesar do rosto ainda inchado. Sua boca estava naturalmente maior e mais avermelhada. Eu me aproximaria se Robin não a tivesse puxado para que ela conhecesse os vizinhos que vieram jantar conosco.
- Você olha demais para ela. – Ouvi a voz de Leona atrás de mim.
- E qual o problema nisso? – Olhei-a tomando um gole do meu vinho. Ela apenas negou com o rosto enquanto me olhava inteiramente. Revirei os olhos. Foi-se a época que Leona era o suficiente para mim.
Se passava das nove da noite quando finalmente nos reunimos na mesa de jantar para comer. Tudo estava delicioso e eu acabei comendo mais do que deveria.
Quando o relógio marcou meia-noite a troca de presentes começou, e honestamente eu não me interessei muito por isso. Procurei (S-N) com o olhar por todos os lugares, mas Gemma disse que ela não estava se sentindo bem, por isso havia ido para a cama.


(S-N) acordou assustada quando sentiu algo cair em seu rosto. Era um bilhete, percebeu. Coçou os olhos, percebendo pelas frestas da janela que já havia amanhecido. Pegou suas coisas dentro da mala e foi até o banheiro para fazer sua higiene matinal.
A casa estava silenciosa, e não parecia ter alguém acordado. O bilhete era anônimo e pedia para que ela encontrasse o autor atrás do celeiro. Pouco depois, mesmo insegura, ela andava por entre a neve. Encontrou Robin sentado em um pedaço grande de pano, enquanto tirava algumas coisas de uma cesta de palha.
- Robin, você me chamou aqui?
- Ah, bom dia querida. – Ele sorriu. – Sim, fui eu. Sente-se por favor.
Ela se sentou, ainda estranhando o comportamento dele.
- Se divertiu ontem? – ele perguntou sorridente.
- Ah, claro. – Mentiu. – Vamos fazer piquenique?
- É o que parece. – Riu. – Eu quero lhe dar um presente. Na verdade, não é bem “meu” presente.
- Do que está falando?
- Ah, sirva-se primeiro, vamos comer.
(S-N) deixou o corpo se relaxar, enquanto pegava algumas torradas com geleia. Conversaram sobre a festa, e ela teve que dar uma desculpa convincente para explicar o porquê de ter ido dormir tão cedo.
Quando acabaram de comer, Robin tirou do fundo da cesta o pequeno baú de madeira que a mãe de (S-N) havia lhe deixado como herança.
- Você vai me deixar ver o que tem ai? – Ela perguntou com um sorriso estampado no rosto.
- Não seria justo não dividir esse momento com você.
- Obrigada Robin. – Abraçou o homem, daquele jeito que somente ela conseguia.
O baú estava coberto por cartas que Robin e Laura trocavam quando ainda namoravam. Os dois releram e sentiram a mesma nostalgia naquele momento. (S-N) pode conhecer um lado da mãe que somente Robin sabia. Divertiu-se com algumas cartas.  Em um fundo falso, naquele mesmo baú de madeira. Havia um colar que Robin tinha dado para Laura quando a pediu em casamento –este que nunca se realizou- era um coração dourado.
- Posso? – Perguntou Robin, assistindo os olhos grandes da garota brilharem. Ela virou-se de costas para ele, deixando que ele colocasse o pequeno colar em seu pescoço. – É ouro. – Ele sussurrou. – Gastei todas as minha economias para compra-lo e dar para a sua mãe. Ela quis me matar.
(S-N) riu enquanto realizava tudo o que estava acontecendo. Jamais se sentira tão próxima à sua mãe, ou tão acolhida em uma família. Olhou para a cesta observando que quase tudo estava ao seu gosto.
- Como você sabia que eu adoro abacaxi? – Ela perguntou sorrindo. – E como você conseguiu ele?
- Ah – ele riu. – Na verdade, os créditos desta cesta vão todos para o Harry. Ele foi até um mercado de produtos naturais e encontrou.
- Ele fez isso?
- Ele é muito prestativo. É uma ótima pessoa, apesar de tudo. – Deu de ombros.


Durante todo o dia (S-N) se manteve afastada, na maioria das vezes relendo o e-mail que havia feito-a entrar em pânico no da anterior. Uma das poucas coisas que lhe consolavam era o colar que agora era exibido em seu pescoço, e que um dia esteve no pescoço da pessoa que ela mais amou em sua vida.
Não viu Harry, Gemma ou Leona. Eles haviam saído para se divertir de alguma forma na neve, o que ela achava um grande absurdo.
Anne fora vê-la umas três vezes durante o dia, enquanto ela ficava deitada tentando de alguma forma manter-se aquecida naquele dia que parecia muito mais frio.
- Acho que alguém está ficando doente. – Disse Anne, ao tirar o termômetro da menina. (S-N) revirou os olhos torcendo para que aquele fosse só o extinto materno dela falando mais alto. Pouco depois Anne voltou com um xarope com um gosto horrível, obrigando (S-N) a toma-lo.
Durante o jantar, estava mais disposta, mas com uma interminável vontade de se manter na cama.
Entrou em seu e-mail logo depois das onze da noite, vendo que sua agente literária havia lhe mandado novas fotos de um contrato imobiliário que ela jamais havia assinado.


Harry estava entre as cobertas enquanto lia O morro dos ventos uivantes pelo que deveria ser a décima quinta vez quando ouviu a porta do seu quarto ranger. Sem mesmo olhar sabia que era (S-N) que estava ali. Continuou prestando atenção em seu livro, mesmo quando a ouviu fechar e trancar a porta.
Mesmo com toda a tristeza que lhe rondava, (S-N) não se negou a sorrir ao ver Harry com o cabelo grande e enrolado preso em um coque, a camisa branca grudada ao corpo, e o óculos quadrado e preto emoldurando seus olhos.
Aproximou-se devagar, arrastando os pés. Dobrou os joelhos na cama, engatinhando manhosa e até o peito de Harry, deitou-se lá, com as mãos apoiadas no corpo dele. Sentiu a camisola fina subir e expor boa parte da sua calcinha, mas não se importou muito. Olhou para o livro de Harry que de certa forma ainda fingia ignora-la, mesmo que ela tivesse percebido seus braços arrepiados.
Harry sentiu a garota procurando conforto enquanto passava as mãos em torno da cintura dele, e subindo o rosto para mais perto do pescoço dele, escondendo-o ali. Sentiu sua pele molhada pelos cílios dela, e mordeu o lábio, sabendo que mesmo que quisesse muito fingir que não se importava, havia uma necessidade imensa de abraça-la também pela cintura e puxar o corpo quente dela para o dele.
- Você vai me contar o que houve? – Ele sussurrou, ainda com os olhos pregados no livro. Imediatamente ela o apertou mais em seu abraço, procurando carinho, conforto, e algo que lhe aquecesse por dentro.
- O que é amor pra você, Harry? – Ela perguntou em um sussurro frouxo.
Ele fechou o livro, deixando de qualquer modo entre os cobertores, e apertou seu abraço em volta da cintura dela, olhando, sem realmente assistir, a tevê à sua frente.
- Para mim amor é raro. – Ela o encarou curiosa, com aqueles olhos brilhantes e aqueles lábios avermelhados que o faziam ter vontade de beija-la o dia todo. – Não acontece tão frequentemente na nossa vida e geralmente nós confundimos paixão com amor... Eu acho que é como o seu lar. É quando você faz o coração de alguém o seu lar.

Os dois ficaram em silêncio encarando ambos os olhos, enquanto ele subia o abraço para o ombro dela e acariciava o local, estranhando a temperatura mais alta que o normal do corpo da menina. Ela também o acariciava, em seu peito.
- O que aconteceu? – Ele sussurrou. – Quem fez uma mulher tão ensolarada ficar tão nublada?
- Ele me traiu. – Ela silabou. – Ele comprou uma casa para a amante dele. – Harry olhou-a de um modo sugestivo, para que ela continuasse a falar. – Minha empresária estava revisando uns contratos na minha casa quando encontrou um contrato imobiliário dele que não trazia o meu nome. Mas sim o de uma advogada que trabalha com ele. Eu sempre soube que ela tinha uma espécie de amor platônico por ele. Só não sabia que ele correspondia. – Deixou outra lágrima cair.
- Não acho que você deva tirar conclusões apressadas.
- Ah Harry por favor. Não é só isso, é tudo, entende? – Ela se sentou na cama com as pernas cruzadas. – Desde os jantares que nós íamos, ela sempre fazia algo que sugeria que ela queria ele. Ela consegue ser pior que a Leona. – Harry riu.
Ele ficou um tempo em silêncio assimilando as informações. Não discutiria com ela, se ela dizia que tinha certeza, deveria ter seus motivos.
- Você também traiu ele... Comigo. – Olhou-a com um sorriso divertido.
- Isso não é engraçado. E foi diferente Harry. Eu não tive uma vida, uma história com você. E não estou gastando meu dinheiro pra te sustentar. Não é nem a traição física. É a traição moral, entende? Ele me enganou esse tempo todo. Eu achava que eu poderia confiar nele.
- A gente sempre acha. Ele não foi a primeira e não será a última pessoa que te machucou. Você precisa lidar com isso, amor. Se você acha que isso realmente aconteceu, precisa escolher o que vai fazer. Ficar sentada reclamando e chorando não vai te ajudar em nada.
- Sabe o que é pior? – Ela o ignorou. – É que eu me sinto culpada por ter transado com você. – Ele riu, chamando atenção dela.
- Então faça como eu: não sinta culpa. Fez? Tá feito. – Ele percebeu as lágrimas começando a voltar e sabia que ela não estava ouvindo o que ela dizia. Se sentou de frente para ela, colocando suas mãos ao redor do rosto dela. – (S-N), para de chorar. Você é jovem, então cala a boca e aproveita sua vida. Ele fez isso porque quis, você acha que deve ficar chorando e se humilhando desse jeito? – Ela negou com o rosto. – Por favor, não faça isso com você mesma.
Sem qualquer precedente, ela o abraçou pelo pescoço, de um jeito apertado, enquanto afundava seu rosto molhado na pele dele. Era incrível como ele a fazia se sentir uma tola e ao mesmo tempo uma mulher com uma força indescritível. Harry correspondeu seu abraço, deixando um beijo molhado nos cabelos dela.
Os dois se deitaram na cama, enquanto (S-N) tentava se recuperar da notícia. Não sentia tristeza, exatamente (pelo menos não mais). Lembrara que seu noivado com ele estava indo por água a baixo, lembrava também que não tinha toda a moral para dizer que ele era um traidor. Ela só não queria ter que voltar par casa e fingir que tudo estava bem.
Harry voltou a atenção para o seu livro enquanto ela respirava pesadamente em seu peito, e passava as mãos pela região de sua barriga.
- Me ajuda, Harry. – Ela mordeu o lábio. Ele, mais uma vez deixou o livro, para acariciar os cabelos dela. (S-N) ergueu o rosto escarando ele. Harry reparou em como o nariz dela estava avermelhado, e os olhos brilhantes e úmidos. Ela encostou seu nariz com o dele e fechou os olhos, ouvindo-o sussurrar pouco depois:
- Você quer que eu te coma?

N/A: Sei que demorei, mas quem está no grupo sabe a razão (que eu acho desnecessária expor aqui.) De qualquer forma, sobre o imagine: sim, parei ai propositalmente! Aguardem pela próxima parte. 
Para quem ainda pergunta sobre Blue: ela vai ser fanfic, por isso eu NÃO irei continuar aqui no blog. Esperam que tenham gostado. Aguardo seus comentários.